Em 2024 nasce a ABCCAN, voltada à representatividade dos growers e apoio à essa atividade tão essencial à indústria, e ao mesmo tempo tão incompreendida pelo direito

 

Por Murilo Nicolau

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Parece que não, mas o Brasil já é recheado de roças de maconha legal. Nesse atual contexto de falta de regulamentação e insegurança quanto ao presente e ao futuro da cannabis medicinal, as Associações puxam o bonde da legalização e já empregam centenas de cultivadores e outros trabalhadores que atuam diretamente no processamento da maconha. E esse número de postos de trabalho só tende a crescer com a estabilização do mercado por aqui, em um futuro que esperamos não estar tão longe assim.

Conforme me confirmou seu criador, a ideia de criar a Associação Brasileira dos Cultivadores de Cannabis (ABCCAN) nasceu da vontade de unir a classe e ser um condutor de forças para melhorias em nosso mercado em favor dos cultivadores. O momento não poderia ser mais oportuno: o mercado aguarda ansiosamente o julgamento de um caso no Superior Tribunal de Justiça que pode revolucionar nossa indústria e permitir o cultivo de cânhamo em solo brasileiro.

Em um mercado que se mostra promissor desde o primeiro dia, mas que sofre com a lentidão na regulamentação de ponta a ponta da indústria, inovação é a palavra-chave. As vezes sequer pensamos nisso, mas cultivar maconha em alta escala é algo complicadíssimo e que envolve muito know-how, tecnologias e riscos de perdas inerentes ao processo de cultivo.

A regulamentação da cannabis medicinal representa uma revolução econômica para o Brasil, não só para os cultivadores, mas também para diversas camadas da sociedade. Em países como os Estados Unidos e o Canadá, onde a legalização é realidade, observa-se um aumento significativo de oportunidades de emprego, e no Brasil, uma política de incentivo ao cultivo regulamentado poderia trazer benefícios semelhantes, impulsionando a economia local, incentivando o desenvolvimento de tecnologias agrícolas e fomentando uma cadeia produtiva robusta, da semente ao produto final.

Além do impacto econômico direto, o desenvolvimento desse mercado pode contribuir para um processo de descentralização econômica, especialmente em regiões que não são atendidas pelos setores tradicionais. Para além de empregos no campo, surgem vagas em setores complementares: laboratórios, logística, tecnologia e, claro, o comércio de produtos finais. A ABCCAM, ao centralizar os interesses dos cultivadores e focar na regulamentação, não apenas apoia a luta pela regulação do cultivo, mas também contribui para a conscientização de que a cannabis legal gera desenvolvimento econômico e inclusão social. Esse é um ponto que não deve passar despercebido na análise do futuro da indústria da cannabis no Brasil.

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Com a evolução da nossa indústria precisamos de mais catalisadoras de conhecimento como a ABCCAM, ajudando a promover inovações que permitam aos growers ingressar com segurança no mercado de trabalho, além de melhorar suas práticas, evitar perdas e aumentar a qualidade dos produtos cultivados.

A demanda por profissionais qualificados é alta, e o setor carece de iniciativas formais para formar essa mão de obra. Ao apoiar a profissionalização dos cultivadores e fomentar a inovação, a ABCCAM contribui para que o Brasil tenha condições de desenvolver uma cadeia de valor sustentável, atendendo com excelência tanto o mercado nacional quanto as possíveis exportações no futuro.

A regulamentação do cultivo de cannabis no Brasil ainda é fragmentada e insuficiente, o que deixa os cultivadores em uma situação de constante insegurança jurídica. Mesmo aqueles que cultivam para fins medicinais frequentemente se veem expostos a riscos legais, que vão desde averiguações policiais até acusações criminais.

Além da proteção jurídica, há a necessidade de promover uma conscientização pública sobre o papel dos cultivadores na cadeia produtiva. Para muitos, o cultivador de cannabis ainda é visto com preconceito, o que acaba dificultando o diálogo e aumentando o estigma que recai sobre esses profissionais. Essa luta é também uma forma de valorizar tais profissionais e de construir uma imagem positiva para a indústria, aproximando-a dos direitos e da dignidade laboral que qualquer outro setor formalmente regulamentado possui.

A verdade é que a nossa indústria sequer existiria se não fosse por esses corajosos cultivadores. Os growers são os grandes responsáveis por levar adiante a evolução da maconha como planta e como commodity: foram eles quem selecionaram as milhares de genéticas que hoje conhecemos, além de desenvolverem as técnicas e tecnologias de cultivo.

Quando o movimento associativo ganhou força no Brasil, os growers também estavam lá para apoiar os pacientes medicinais na busca de um tratamento mais adequado e seguro.

Que essa iniciativa possa tomar cada vez mais espaço no nosso mercado da cannabis legal, e que possa impactar positivamente cada vez mais a vida dos nossos cultivadores. Espero, ansiosamente, para que um dia tenhamos Sindicatos dos Growers, porque isso significará que vencemos a nossa luta, e que a indústria da cannabis finalmente foi regulamentada.

Murilo Nicolau
maconha usuário não é criminoso