Doping ainda carrega uma aura de vilão. Pensamos em anabolizantes, hormônios sintéticos, substâncias que criam vantagem. Mas, cannabis? Um vilão por moda ou por ciência falha?
A proibição de todos os canabinoides — exceto o CBD (canabidiol) — e um limite de 180 ng/ml de THC em urina não tem sustentação clínica, ética ou esportiva. É fruto de uma “inércia social, um preconceito histórico que insiste em sobreviver.
O que diz a regra hoje
A WADA libera apenas o CBD. THC deve ficar abaixo de 180 ng/ml em competições. Qualquer outro canabinoide como CBG, CBN, THCV, seguem proibidos. Resultado: um atleta pode ser punido sem estar sob efeito ativo no momento da prova — apenas por resíduos metabólicos acumulados.
Cannabis não melhora performance de forma direta, e ponto.
Os critérios da WADA para classificar Doping:
- melhora performance,
- risco à saúde,
- viola espírito esportivo.
A literatura científica ruge contra o (1): cannabis não eleva a performance diretamente; THC, em dose alta, pode reduzir coordenação e tempo de reação, prejudicando o atleta.
Mas… benefícios indiretos existem, sim!
É aí que entra a parte menos falada, mas essencial: a cannabis contribui indiretamente ao bem-estar esportivo:
- Mais prazer e motivação no treino.
Um estudo com 42 corredores mostrou que usar cannabis antes do exercício aumentou o humor positivo e o prazer durante a atividade — sem melhorar o desempenho técnico, mas deixando o exercício mais atrativo. - Melhora em parâmetros fisiológicos específicos como VO₂, potência média.
Uma revisão sistemática publicada em 2024 (Bezuglov et al.) analisou sete estudos com indivíduos saudáveis ativos: houve efeitos positivos limitados — mas reais — no VO₂, potência média, além de indicativos de melhora na fadiga e estado psicoemocional.
Além disso, um levantamento amplo (Zeiger, PLOS One) mostrou que 61 % dos atletas relatam uso de cannabis para alívio da dor, e 68 % disseram que isso realmente ajudou.
O artigo “Cannabis and Sports”, revisando estudos recentes, confirma que 93 % dos usuários disseram que o CBD ajudou na recuperação, e 87 % disseram o mesmo sobre produtos com THC — com melhora no prazer do exercício e motivação.

Outros esportes já liberaram
Nos Estados Unidos, na NBA (Liga Nacional de Basquete) e NFL (Liga Nacional de Futebol Americano), a cannabis já saiu da lista de substâncias proibidas e fiscalizadas pelo doping.
Atletas relatam usá-la como ferramenta de recuperação ou para a saúde mental, não para “ganhar vantagem”.
O prejuízo real: a “inércia social”
Enquanto certos atletas têm suas carreiras manchadas por testes positivos, mesmo sem efeitos ativos por cannabis medicinal ou recreativa, outras substâncias nocivas são tratadas com mais pragmatismo.
Esse desequilíbrio não protege o esporte: enfraquece sua credibilidade.
Clamor por mudança
Cannabis não é doping, do ponto de vista da igualdade e espírito esportivo. Defender sua proibição é perpetuar mito, não proteger o atleta. Um sistema antidoping realmente científico precisa basear-se na ciência, não em preconceitos de século passado.
Os benefícios indiretos (melhor humor, motivação, alívio de dor, recuperação) são argumentos legítimos para questionar o status quo. A cannabis é ferramenta de saúde, não de trapaça.







