Da sombra do ban pra luz do debate: @dichavando chega no Cannabis Monitor

Após 3 meses suspenso pela Meta, perfil do projeto Dichavando a RD recupera conta através da justiça
Dichavando a RD

Essa é a face da censura seletiva, que mira justamente quem ousa questionar o proibicionismo de forma séria, responsável e comprometida com a informação. Enquanto isso, conteúdos duvidosos, produtos milagrosos e apologia ao consumo sem limites circulam livremente. É o algoritmo do medo atuando como braço digital do proibicionismo.

Essa experiência nos coloca no centro de um debate urgente: a censura digital e suas consequências para a sociedade. Plataformas controladas por gigantes como a Meta vêm criando regras opacas, inconsistentes e muitas vezes arbitrárias, que restringem conteúdos relacionados à cannabis mesmo quando abordados de forma educativa ou informativa.

Dichavando a RD
Foto: Reprodução/Grupovoto

Essa prática de silenciamento digital não é um fenômeno isolado. Ela se insere em um contexto histórico mais amplo, onde o proibicionismo sempre esteve ligado ao controle social. No Brasil, a criminalização da maconha e outras drogas não foi motivada por saúde pública, mas por interesses econômicos, raciais e políticos, visando controlar e estigmatizar corpos negros e periféricos.

Livro Drogas - A história do proibicionismo
Livro Drogas – A história do proibicionismo, de Henrique Carneiro. | Imagem: Reprodução

O ambiente digital se tornou mais um espaço de batalha pelo controle social. Os algoritmos monitoram, filtram e limitam conteúdos que questionam o status quo, enquanto promovem discursos alinhados aos interesses das plataformas ou de grupos econômicos e políticos.

Ao silenciar perfis educativos como o da @dichavandoard, essas plataformas não apenas reproduzem estigmas sobre quem usa drogas, mas impedem o acesso à informação de qualidade, essencial para a redução de danos e para a promoção de escolhas conscientes.

O retorno da página após a liminar judicial não foi apenas simbólico: é uma afirmação de resistência. Recuperar nosso espaço significa dizer em voz alta que não aceitamos o apagamento do debate crítico. É também uma oportunidade de reafirmar que falar de drogas não é apologia: é educação, cuidado e política.

Aqui no Cannabis Monitor, conseguimos ocupar um espaço que, por muito tempo, foi negado, permitindo que informação de qualidade chegue a mais pessoas, sem filtros que reforcem preconceitos e estigmas.

Dichavando
Foto: GayerPhotography | Postado no Facebook do coletivo Changa

A luta contra a censura digital também nos força a refletir sobre a importância da redução de danos como estratégia de cuidado coletivo. Redução de danos não é neutralidade moral, nem convite ao consumo; é, acima de tudo, um instrumento de proteção e autonomia, que valoriza a vida das pessoas e minimiza riscos associados ao consumo de drogas. E é justamente essa perspectiva que nos guia desde que a @dichavandoard nasceu, em julho de 2018, há 7 anos.

Ah, e já ia me esquecendo de me apresentar: sou Alexandre Monteiro, psicólogo (CRP 16/7696), especialista em saúde mental e dependência química, pós-graduando em Sociedade, Drogas e Práticas Educativas, e também maconheiro. A Dichavando nasceu desse compromisso de falar de drogas de forma crítica, informativa e provocativa, misturando ciência, política e experiência de vida.

Estar aqui é mais do que escrever uma coluna: é resistir a um silêncio que tenta se impor, é construir redes de informação, fortalecer debates e mostrar que cuidar é mais revolucionário do que punir

Seguimos firmes, dichavando o que tentaram esconder.

Alexandre Monteiro

Livro A Maconha no Brasil através da Imprensa
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