A história nos mostra que a cannabis sempre esteve ao lado da humanidade, seja como remédio, seja como recurso industrial

 

Por Paulo Vinícius Carmo (Dr.PV)

pen tsao cannabis
2.700 AC – O médico chinês, Pen Ts’ao, foi um dos primeiros a descrever a cannabis e seus usos na medicina | Imagem: Reprodução

 

O uso da maconha pelo ser humano remonta há milênios, com registros históricos que evidenciam sua aplicação tanto medicinal quanto industrial. O cânhamo, variedade da cannabis com baixo teor de THC, era utilizado para a produção de cordas, tecidos e fibras, e as genéticas com alto THC já eram reconhecidas por seus efeitos medicinais.

Hoje, a ciência avança no entendimento desses compostos, mas o preconceito em relação ao THC ainda persiste, muitas vezes obscurecendo seu potencial terapêutico.

A cannabis é uma das plantas mais antigas cultivadas pela humanidade. Evidências arqueológicas sugerem que o cânhamo era usado na China há mais de 10.000 anos para a produção de tecidos e cordas. Já o uso medicinal da cannabis com alto THC é documentado em textos antigos, como o Pên Ts’ao Ching, um tratado chinês de farmacologia que data de 2.700 a.C., onde a planta é descrita como um remédio para dores e inflamações. No Egito Antigo, a cannabis era utilizada para tratar glaucoma e inflamações, já na Índia, ela integrava práticas ayurvédicas há milênios.

Enquanto o THC já é utilizado de forma medicinal há milênios (para não falar também do uso ritualístico e religioso), as genéticas de cannabis com alto teor de CBD são relativamente recentes e começaram a ser aprimoradas há poucas décadas, após a descoberta científicas dos efeitos medicinais do CBD.

Ele foi isolado pela primeira vez em 1940 pelo químico Roger Adams, mas foi apenas nas décadas de 1960 e 1970 que os pesquisadores Raphael Mechoulam e Yechiel Gaoni desvendaram sua estrutura química e propriedades terapêuticas.

 

flora urbana

 

Atualmente, poucas cepas são estáveis o suficiente para oferecer proporções significativas de CBD em relação ao THC, como 15:1 ou mais.

Ao contrário do THC, o CBD não produz efeitos psicoativos intensos com aquela alteração de percepção características do THC, o que o tornou uma opção atraente para tratamentos médicos. Estudos confirmam a eficácia do CBD no controle de convulsões, redução da ansiedade, ação anti-inflamatória e diversos outros efeitos terapêuticos.

Enquanto o CBD ganha destaque, o THC (tetraidrocanabinol) continua sendo alvo de preconceito, apesar de sua semelhança química com a anandamida, o principal endocanabinoide do corpo humano. A anandamida, conhecida como a “molécula da felicidade”, desempenha um papel crucial na regulação do humor, da dor e do apetite, por exemplo. O THC, ao se ligar aos mesmos receptores do sistema endocanabinoide (CB1 e CB2), “imita” os efeitos da anandamida, oferecendo alívio para condições como dor crônica, náuseas, insônia e espasticidade.

O estigma em torno do THC está enraizado em décadas de proibição e desinformação. Apesar de sua eficácia comprovada no tratamento de diversas condições, ele ainda é associado ao uso recreativo e a efeitos psicoativos indesejados. No entanto, a ciência tem demonstrado que, quando usado de forma controlada e em dosagens adequadas, o THC pode ser uma ferramenta poderosa na medicina.

É hora de superar o preconceito e reconhecer o potencial tanto do THC quanto do CBD. Enquanto o CBD oferece uma abordagem terapêutica sem efeitos psicoativos intensos de alteração de percepção, o THC complementa o tratamento com seus efeitos analgésicos, antieméticos e neuroprotetores. Juntos, esses canabinóides e centenas de outras substâncias presentes na maconha representam o futuro da medicina, uma área que promete revolucionar o tratamento de diversas doenças.

A história nos mostra que a cannabis sempre esteve ao lado da humanidade, seja como remédio, seja como recurso industrial. Agora, cabe a nós abrir a mente e aproveitar todo o potencial dessa planta incrível.

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