O objetivo é denunciar a contribuição decisiva da imprensa hegemônica, durante grande parte do século XX, no processo de criminalização, demonização, marginalização e estigmatização da planta e seus usuários no país.
Ancorada em discursos médicos eugenistas, racistas e moralistas, característicos da primeira metade do século XX e sem nenhum tipo de comprovação científica séria, a imprensa difundiu amplamente na esfera pública representações negativas, mitos e inverdades sobre a maconha e apoiou por décadas a ação repressiva do Estado sobre sua produção, comércio e consumo.
Trecho de artigo do jornal Correio da Manhã (RJ) de 14/01/1945
Em 14 de janeiro de 1945, o jornal carioca “Correio da Manhã” publicava este artigo em seu caderno “Agrícola”, assinado pelo químico Alfredo Honorato da Silva. Seu texto dialoga com a produção e o discurso médico-científico desenvolvido no Brasil nas primeiras décadas do século XX que, aliado às tendências internacionais de criminalização de drogas capitaneadas pelos Estados Unidos, deu sustentação para a implantação e desenvolvimento de leis proibicionistas e políticas de repressão à planta e seu usos para qualquer finalidade.
Trecho de artigo do jornal Correio da Manhã (RJ) de 14/01/1945
No artigo reproduz-se uma variada gama de representações acerca tanto da planta e seus efeitos; “perigoso vegetal”, “vício infernal”, “atividade nefasta”, “perigoso vício”, quanto dos seus usuários; “viciados”, “infelizes”, “loucos”, “imbecis”, “ensandecidos”, cujo hábito de consumir maconha os associavam a “transtornos e desequilíbrios mentais”, “humanicídios”, “matança de animais” e “destruição de lavouras”.
Trecho de artigo do jornal Correio da Manhã (RJ) de 14/01/1945
Nela também associa-se a disseminação do seu cultivo em terras brasileiras aos negros oriundos de Angola e aponta-se, já em 1945, uma forte atuação das autoridades públicas na fiscalização e combate ao “perigoso vegetal” provocador de “um estupor voluptuoso, (…) maior ainda do que o do ópio”.
Trecho de artigo do jornal Correio da Manhã (RJ) de 14/01/1945
Apesar de proibida e criminalizada definitivamente na década de 1930, é somente a partir da segunda metade da década de 1940 que o termo “maconha” passa a ganhar visibilidade na imprensa nacional. Até então, a planta era chamada de diversos nomes como “liamba”, “diamba”, “pango” e “fumo de angola”. Muito disseminada em regiões rurais do Norte e Nordeste, a maconha ganha as grandes cidades brasileiras do Sudeste com o advento do êxodo rural, ocorrido na década de 1930 durante o período desenvolvimentista da “Era Vargas”.
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