Filme explora o cultivo caseiro de cannabis por pacientes no Brasil
Por Murilo Nicolau
Imagem: Divulgação
O documentário O Preço da Cura, dirigido por Mônica Barcelos e produzido pelo Dr. Paulo Vinicius Carmo, médico clínico geral prescritor de cannabis, será lançado no dia 26/04/2025, no Cine Nave, promovido pela Mídia Ninja, na Nave Coletiva, em São Paulo. Tive a oportunidade de assisti-lo em pré-estreia — e o que vi foi um retrato nu e cru da realidade que a maioria dos pacientes de cannabis medicinal enfrenta no Brasil.
“Vou deixar de tratar minha irmã porque alguém decidiu que é proibido?”
É nesse tom que o documentário se desenvolve — e com a pergunta somos imediatamente transportados à história de uma família que teve que se arriscar para garantir o tratamento da pequena Clara, que respondia pouco às medicações convencionais.
Ainda hoje, pouquíssimas produções se dedicaram a abordar exclusivamente o autocultivo, e não por acaso: a nossa legislação historicamente ignorou essa via, preferindo privilegiar os interesses da indústria farmacêutica e do grande capital.
Falar em cultivo caseiro é romper com paradigmas econômicos e regulatórios. É afirmar que é possível tratar-se com maconha cultivada no quintal, sem precisar desembolsar mil reais ou mais por um frasco de CBD importado. E sim — é possível.
Mas o documentário vai além da questão do tratamento. Ele revela também a angústia profunda de uma mãe que, por muito tempo, viveu dividida entre lutar pelo direito à saúde da filha e o medo de sofrer repressões judiciais — como a perda da guarda dos filhos ou a destruição das plantas que garantiam a melhora de Clara.
O crescente número de ações judiciais pelo direito de cultivar cannabis acaba, muitas vezes, por esconder o que acontece antes da decisão judicial: o sofrimento diário de pacientes e familiares que vivem com medo — medo da polícia, do preconceito, da Justiça.
A verdade é que ninguém deveria temer perder seus filhos por tentar garantir a eles dignidade e saúde. No caso da família retratada no documentário, a paz só veio após a conquista de um salvo-conduto judicial que lhes permitiu cultivar legalmente.
Esse é o verdadeiro preço da cura no Brasil: a criminalização, o medo e a angústia vividos por quem escolhe cuidar. O documentário escancara que não estamos diante de um simples impasse jurídico ou médico, mas de uma crise ética, política e social. Diante da omissão do Estado, são os próprios cidadãos e médicos que constroem, com coragem, os caminhos de acesso — ainda que à margem da lei.
A luta pelo autocultivo não é um ato de desobediência: é um ato de sobrevivência e de busca por dignidade, e a via judicial tem sido a única ferramenta efetiva para proteger quem já não pode esperar. É por isso que produções como O Preço da Cura são tão necessárias – porque escancaram o abismo entre a lei e a realidade social.
Que esse documentário toque outras consciências como tocou a minha – e que ajude a transformar a compaixão em política pública.